Considerado um dos maiores compositores do Brasil, Filipe Escandurras já tem sua aposta para a “Música do Carnaval”. Hoje, assumindo o papel de protagonista, o baiano guardou durante um ano e meio a canção “Carol”, que é assinada e interpretada pelo próprio artista.

 

“Sem sombra de dúvidas é um momento especial para mim, para minha carreira, porque eu sempre participei do Carnaval de Salvador, mas como músico, compositor. Em 2017, eu cheguei a puxar alguns trios e tocar em camarotes, mas não tinha tanta expressão como eu tenho hoje. Depois de quase três anos sem carnaval, a gente chega muito bem posicionado no mercado e na música baiana (…). É algo muito especial”, garante o artista em entrevista ao Bahia Notícias.

 

A letra da música expressa toda a sensualidade feminina, representada na personagem Carol. Durante o bate-papo o músico explicou a escolha do título. “Eu queria fazer uma música com o nome Carol, porque são personagens da minha vida, da minha família e, inclusive, já namorei uma Carol. Mas (a escolha) não foi por conta disso. Carol é a mulher brasileira, baiana, aquela mulher de guerra, a que se arruma e vai para festa, que gosta de curtir a vida independente do momento que estamos vivendo”. Lançado há um mês, o single ganhou nesta quinta-feira (2) uma versão em parceria com Léo Santana. Já neste sábado (4), o clipe será lançado.

 

 

Eu já fui compus várias outras músicas e fui campeão do carnaval como compositor. Eu acho que essa música tem tudo para ser a ‘Música do Carnaval’ por todos esses pontos positivos e por ela ter um swing diferenciado, um swing que é desde o Gera Samba, tem um mistura do É o Tchan… A gente trouxe essa essência que é nossa. Sem sombra de dúvidas a gente vai levar esse prêmio”, diz confiante. 

 

Filipe tocará todos os dias de carnaval, e foi anunciado como atração do Furdunço, que acontece no dia 12 de fevereiro. Com a agenda lotada, o artista fará 25 shows neste mês.

 

“A preparação está sendo bem intensa porque a gente vai fazer dez shows só no período do carnaval. O meu show geralmente é uma hora e meia, duas horas no máximo. No trio é de cinco a seis horas cantando e ainda tem o camarote”, comenta o cantor, ao falar sobre a preparação para o carnaval.

 

Ele completa: “Eu tinha parado com os treinos. Fazia muita academia, mas com essa correria de shows não consegui dar tanta prioridade. Mas o carnaval exige isso, porque o tempo de um show para o outro é muito curto. Então, eu voltei a fazer treinos, caminhadas, jejum…”.

 

“A gente tem se preocupado muito com o repertório do show, com o que vamos apresentar, porque eu quero que fique marcado na mente e no coração das pessoas a nossa passagem neste carnaval”, diz animado.

 

 

CARREIRA NO SAMBA

Provando que é versátil não só compondo, mas também cantando, antes de mergulhar de vez no samba, Escandurras já cantou sertanejo universitário e piseiro. Apesar de ter o gênero correndo nas veias, o filho de Roque Bentequê só resolveu mergulhar de vez no estilo musical durante a pandemia, há quase dois anos.

 

“Eu nasci num berço de samba, mas a minha caminhada musical me levou para outros gêneros. Mas sempre com a minha essência. Eu toco desde os dez anos, comecei a tocar com meu pai”, destaca. “Em 2017, eu tive meu sertanejo universitário, fiz o carnaval, mas foi no pós-carnaval que eu resolvi parar de cantar e me dedicar a composição”, relembra. Neste período, Filipe já escreveu músicas para diversos artistas como Ivete Sangalo, Luan Santana, Xanddy Harmonia, Márcio Victor, Pablo e muitos outros.

 

 

Só em 2021, ele resolveu de vez fazer algo que já tinha vontade há muito tempo: cantar samba. “Eu já tinha isso no meu coração, mas sempre ficava colocando para a frente. Mas quando a gente gravou e escutei aquilo, do jeito que estava, eu disse: ‘rapaz, é isso aqui que eu preciso’. Eu tinha certeza que as pessoas iam curtir. Graças a Deus a gente vem fazendo sucesso, viajando o Nordeste inteiro”.

 

Ao ser perguntado pela “demora” de cantar um gênero que sempre fez parte de sua vida, ele responde: “Eu pesquisei bastante como fazer samba. Eu não queria ser só mais um, eu queria cantar algo diferente”. Foi então que Escandurras trouxe a experiência profissional e diversidade artística para sua música também. “Meu samba é gravado com sanfona, que já é uma coisa diferente. No início não tinha bateria, mas eu coloquei há quatro meses. É um som muito específico”, conta o cantor.

 

Além disso, ele faz questão de trazer outros gêneros para o estilo musical. “Essa foi a minha virada de chave para o nosso projeto”, afirma.

 

“Eu sei que muitos artistas não têm o suporte financeiro que eu tive por conta da minha carreira como compositor e de outros investimentos que eu estava fazendo. Eu tive essa flexibilidade de montar um projeto, gravar um audiovisual, que é o que as pessoas aqui não fazem. Mas não (fazem) porque elas não querem, mas sim porque não têm recursos”, reconhece o artista.

 

Filipe aponta ainda a desvalorização dos artistas que representam o gênero. “A minha grande indignação é que os contratantes, os donos de bares, não se agravando a todos, não valorizam os (cantores) de Salvador, mas para os de fora pagam cachê de R$ 60 mil, R$ 150 mil. Tudo bem que esses artistas já têm uma história, não posso me comparar, mas tem como equilibrar isso. Aos artistas de Salvador, Bahia eles querem pagar dois mil reais e ainda acham que estão pagando caro”, critica.

 

“Eu não fico feliz de ser visto como o ‘número 1’ da Bahia, porque tem uma galera que faz esse samba há 10, 15, 20 anos e já vem lutando (para ganhar espaço no mercado)”, lamenta o artista.

 

Filipe completa afirmando que, além da falta de valorização, também percebe a dificuldade de alguns artistas se reinventarem. “Eu quero ver todos esses artistas no mesmo nível ou até mais do que eu, para que a galera enxergue o nosso tamanho. Porque a gente sabe fazer samba, sabemos fazer show. Eu quero que os contratantes de São Paulo nos contratem também. A gente precisa fazer um movimento melhor, se reciclar musicalmente falando”.