Como resumir o Brasil em um espetáculo? Como conseguir traduzir os mais de 8 milhões de quilômetros de extensão do país? Os 5.570 municípios, os 26 estados e o Distrito Federal, as cinco regiões e suas particularidades? A tarefa difícil ficou para Vavá Botelho, responsável dirigir o concerto sinfonia Terra Brasilis, que marcou o encerramento do Grupo de Trabalho de Cultura do G20 Brasil 2024 na Bahia.
De casa cheia, com os 5 mil ingressos vendidos, o Concerto Sinfonia Terra Brasilis ganhou o palco a Concha Acústica do TCA nesta sexta-feira (8), após um trabalho árduo de quase um ano de preparação do fundador do Balé Folclórico da Bahia, que foi convidado por Margareth Menezes para idealizar o musical
“Eu recebi essa incumbência em outubro do ano passado, quando Margareth me ligou da Índia, onde estava acontecendo a reunião de 2023, e eu comecei já a pensar em muitas coisas porque ela já chegou cheia de ideias que queria as manifestações culturais do Brasil inteiro. Eu alimentei esse sonho o tempo inteiro na cabeça, mas a gente viu que era muito complicado trazer manifestações culturais do país inteiro para toda a logística de ensaio, de concepção e tudo mais então, pensamos no show como se fosse um sobrevoo no país e vamos trazer a música como uma linguagem que contempla tudo isso, que contempla toda essa diversidade essa riqueza cultural que a gente tem no Brasil.”
Tendo a Orquestra Sinfônica da Bahia como anfitriã do concerto, Vavá trabalhou em construir uma história, intercalando as músicas de BaianaSystem, Daniela Mercury, Ellen Oléria, Gaby Amarantos, Kleiton & Kledir, e Martnália, com as canções clássicas, em uma viagem que teve início na Bahia, e fim também, mas passou por cada região do país.
Ao Bahia Notícias, Vavá contou que não foi difícil de encaixar a grandiosidade de cada convidado no espetáculo. O difícil, nesta sexta, foi fazer o público assistir ao concerto sentado, o que também não era totalmente a intenção.
“Não foi difícil de jeito nenhum. Pelo contrário, a gente foi abraçado por todos eles. Todos amaram a ideia, vieram muito, muito felizes de estar participando do projeto. Contribuíram muito, ajudando, dando ideias, dando dicas para a gente, para a gente poder complementar todas as ideias que chegaram até eles. E eu acho que tudo isso colaborou para que a gente pudesse fazer um espetáculo grandioso, com, meio e fim.”
Daniela Mercury foi a primeira convidada da noite a colaborar com a Osba. Ao BN, a artista celebrou a parceria. Segundo Daniela, aquela seria a primeira vez que cantaria as canções escolhidas para o show com a orquestra.
“Eu estou lisonjeada, escolhi três canções que são conhecidas no mundo, ‘Ilê Perola Negra’, ‘O Canto da Cidade’ e ‘Rapunzel’, que ficou entre as músicas mais tocadas na Europa. Então, é uma forma da gente se conectar. Agora a gente pode cantar aqui ao lado de colegas tão expressivos, tão importantes, como a Gabi Amarantes, Mart’nália, BaianaSystem, e estão lindos, os arranjos estão espetaculares. Eu estou emocionada.”
É bom demais ser baiana! Daniela Mercury & OSBA ♥? pic.twitter.com/J6l9u1GCwE
— Bianca Andrade (@eubiandrade) November 8, 2024
A artista foi a responsável por tirar o público do chão ao som dos sucessos e com a presença das Deusas do Ébano. Depois de Daniela, a “regra” foi criada, se a música é animada, a plateia curte de pé. Gaby Amarantos, representando o Norte, fez isso nas três músicas cantadas.
Emocionada, Gaby, que levou o tecnomelody, além da tradição de Dona Onete, celebrou ter sido a escolhida para representar o Norte e da região ter sido lembrada após o apagamento em momentos de grande destaque na mídia, como o Rock in Rio.
“Eu tô muito feliz de ter sido escolhida como representante desse lugar tão lindo. Quem ainda não foi no Norte, quem ainda não foi no Amazônia, quem ainda conheceu nosso Círio de Nazaré, nossa festa de aparelhagem, a nossa cultura, que é tão rica quanto essa, vá. Eu me sinto em casa quando eu tô aqui, e eu espero que vocês se sintam em casa quando forem lá.”
Gaby Amarantos representando o Norte. Tá lindo e ela tá feliz que o público tá cantando e curtindo junto ???? pic.twitter.com/5vMXo8Nn1R
— Bianca Andrade (@eubiandrade) November 8, 2024
A festa seguiu com a música da dupla Kleiton e Kledir, que promoveu uma sessão nostalgia na Concha com o sucesso ‘Deu Pra Ti’, de 1981, e revelou ao BN que a relação deles com a Bahia é antiga, de outros carnavais. Ou melhor, festivais.
“A gente tem um carinho muito grande por Salvador, pela Bahia, porque desde que a gente começou a gente vem fazer show aqui, até anterior a dupla. A gente tinha o Almôndegas que era a nossa banda, e chegamos a fazer o Festival de Verão, é uma longa trajetória, uma longa história de amor e de carinho pela Bahia e eu acredito que a recíproca também é verdadeira. Estamos muito contentes de participar.
Foto: Caio Diniz/ Secult
A festa continuou com Ellen Oléria, natural de Brasília e que representou a região Centro-Oeste. A ex-The Voice Brasil foi ovacionada pelo público e encantou com a voz potente. A artista precedeu Mart’nália, que levou para o palco a malemolência do samba carioca, representando o Sudeste. Bem humorada e confortável no palco, a artista deu um selinho e Prazeres e dançou com o maestro, fazendo o público gritar e pedir bis.
Foto: Caio Diniz/ Secult
O encerramento da festa transformou a Concha Acústica em um Carnaval. Sem Navio Pirata, a energia da avenida ficou por conta da plateia, além, é claro, do som da BaianaSystem. A banda colocou toda Concha de pé e ainda promoveu uma rodinha, assim, no diminutivo, na frente do palco.
Ao som de ‘Lucro’, ‘Sul-Americana’, ‘Capim Guiné’ e ‘Duas Cidades’, até o próprio maestro se entregou ao balanço e os músicos da Osba se levantaram no ritmo da música. Pode ter demorado, mas chegou um show daqueles feito da Bahia para o Brasil. Que representasse cada canto e cada particularidade do nosso mundo para o mundo.
QUE SHOW! QUE SHOW ♥?
Concerto Sinfonia Terra Brasilis – Encerramento do Grupo de Trabalho de Cultura do G20 Brasil 2024 na Bahia pic.twitter.com/ODkHw9fPMO
— Bianca Andrade (@eubiandrade) November 9, 2024
Para Bruno Monteiro, Secretário de Cultura da Bahia, o saldo do G20 na Bahia é positivo, assim como o show de encerramento que teve a aprovação do público.
“Em termos de cultura, uma semana como essa, em que a Bahia foi o centro das atenções das políticas de cultura no mundo, com certeza deixa muitas sementes plantadas. Primeiro pelo contato, a imersão cultural que nós possibilitamos para essas autoridades do mundo todo que tiveram uma vivência muito intensa aqui com uma programação que nós preparamos que valorizou muito a diversidade cultural baiana, mas também pela possibilidade dos intercâmbios que foram estabelecidos porque isso é o que continua, o que vai dar sequência todo o diálogo estabelecido, todas as experiências trocadas. E a Bahia também foi o cenário inspirador para um encontro muito produtivo, que produziu um documento final muito avançado do ponto de vista propositivo, com uma agenda muito forte muito importante para a cultura mundial sobretudo com o tema da preservação ambiental da valorização da economia criativa da preservação dos patrimônios, então é um balanço muito positivo de uma semana muito frutífera para a cultura mundial, especialmente para a cultura baiana”.