O Solar Boa Vista, que pertenceu a um traficante de escravos, ficou conhecido como a casa em que cresceu o poeta abolicionista Castro Alves (1847-1871). Foi usado como hospital, asilo e abrigo psiquiátrico, conjunto habitacional e até sede da Prefeitura de Salvador. Hoje, é um casarão abandonado sem perspectiva de recuperação em curto prazo.
Na semana em que se completou 175 anos do nascimento do poeta, o solar de sua infância, que inspirou a poesia “A Boa Vista”, continua um conjunto de ruínas tomadas por vegetação e lixo. O assunto foi tema de capa do Jornal da Metropole no dia 12 de janeiro.
Desde lá, nada mudou. O governo do estado, responsável pelo espaço no Engenho Velho de Brotas, diz que ainda não se decidiu sobre o futuro do edifício, dividido entre a secretaria da Saúde e entidades culturais.
Diante desta falta de ação, o Iphan iniciou os trâmites para propor uma Ação Civil Pública na Justiça Federal responsabilizando os envolvidos pelo abandono.
O Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), por sua vez, anunciou como uma das prioridades para a nova gestão, iniciada neste ano, o projeto de transformar o solar em “Museu da Libertação”.
A intenção, de acordo com a entidade, é que a Bahia sedie o mais importante museu, em todo o continente americano, para dizer o que foi a escravidão, que durou no país 353 anos. “Salvador é a cidade que mais deve isso no continente, porque é a cidade com maior população negra fora da África”, diz o novo presidente do instituto, Joaci Góes.
Como presidente da Academia de Letras da Bahia, Joaci chegou a enviar um parecer para a gestão estadual, no qual pedia a concessão do espaço para o museu. O documento foi assinado em acordo com a Universidade Federal da Bahia, o próprio IGHB e demais entidades do estado, como o Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira.
O governador Rui Costa (PT) não respondeu. Na época, em 2019, ele havia anunciado que o espaço abrigaria uma central de diagnóstico de imagem do estado, projeto que não foi levado adiante.
O parecer elaborado por Góes enumera a importância do solar ser aproveitado em homenagem a Castro Alves. A Chácara Boa Vista, nome original da propriedade, foi a casa onde, por mais tempo, morou o poeta.
Foi lá onde Castro Alves concluiu seu livro ‘Os escravos’ e também onde se hospedou com a grande paixão de sua vida, a atriz Eugênia Câmara.
“Por derradeiro, um ou mais centros de imagens, de indiscutível importância para a saúde dos baianos, podem ser edificados em qualquer lugar da cidade. Não há outro lugar, porém, em todo o Brasil, que seja minimamente comparável ao Solar Boa Vista para abrigar um Museu de tamanho significado para a preservação da História Cultural da Bahia”, defende Joaci Góes.